4 de março de 2014



Faz tempo. E que tempo. Ai o tempo. Tanto tempo. E o que resta de tudo isso é só um rosto da mesma cor que o negrume da noite. Uma dor imperturbável que nunca saiu do sítio, apenas foi nestes tempos um tanto maior. Vi caras que não queria ver e as horas passaram lentamente, senti o Universo de outra forma à qual não estava habituada. E não sei o que é que isso fez de mim. Se me tornei melhor eu não sei! Mas toda a dimensão lucrou um tanto menos à minha custa, porque deixei de construir o meu mundo, ele destruiu-se sozinho. E eu não consegui evitar que isso acontecesse. Agora sou só mais um pouco o que fui... Noutro mundo mais feliz que tentei pintar com pincéis de tristeza artificial.

Bom dia.
Um dia talvez entenda.

9 de setembro de 2013

Se amar é ouvir então ouvir é o sofrimento silencioso e inibido de funcionalidades, que enfraquecem o corpo e que fazem a cabeça latejar horas sem fim. E não há vontade de ouvir, porque quem ama ouve e por amar não demonstra todo o sofrimento que o acolhe. Mas tem de ouvir, embora não o queira. Porque ninguém quer sofrer o mal de ter medo de falar, de dizer que não está bem, que não está feliz. Então é mais fácil ocultar o sacrilégio do que o cumprir em total transparência. Ser transparente é estar morto na mente. E não ter vergonha de o demonstrar é litigioso. E a sentença pode ser perigosa e caluniosa.

28 de agosto de 2013

Não há força que suporte o meu âmago na noite de hoje. Não vai existir nem uma única pessoa que me faça crer que o que se passa é ilusório, e que não passa de um bicho de sete cabeças dentro da minha cabeça. No meu profundo segredo eu choro cada raiva que tem vindo a azedar o meu coração. E de que tamanho é o meu choro que parece cada vez mais infinito... As pessoas partiram para lugares distantes e eu quase me vejo vazia em frente ao espelho. Nem o meu próprio amor retira de mim esta vontade de desaparecer, porque eu nunca fui moça de ceder o mundo a uma causa incerta. Estou tão perdida e é tão fácil encontrar-me a mim mesma que não o consigo. Já que não tenho muito para onde ir é quase óbvio que esteja no meu quarto, debaixo dos meus lençóis, a olhar o mesmo tecto de todos os dias. E nem mesmo assim eu me consigo encontrar. Dentro de mim existe um prédio com dezenas de andares e centenas de escadas só que, provavelmente numa dessas escadas está um buraco, no qual eu caí. Mesmo sendo dentro de mim, eu não sei aonde esse buraco vai dar. E a lacuna vai esticando, até ocupar os meus olhos, até ocupar o meu leito. Até eu chegar de fronte de um espelho e reparar, que estou completamente vazia.

Maria

30 de julho de 2013

Receio ter ganho algum medo à escrita. Ao poder que de mim emanava e que controlava cada pensamento e cada gesto meu. Como se o que escrevo fosse mais forte do que penso, e que a base do meu pensamento fosse, então, a minha escrita. Mas não verdade acho que não é só isso. Acho que a simplicidade em que me transformei nos tempos que correram modificaram os meus hábitos rotineiros, a minha maneira de ver o mundo quando acordo e de o temer quando adormeço. O meu leito esvaziou-se das pessoas que ramificavam a minha vida, ou seja, estou cada vez mais sozinha. O meu futuro está cada vez mais próximo e eu cada vez mais longe de o suportar sozinha. O que, estando cada vez mais sozinha, se torna mais difícil. Temo estar a perder o sentido do meu ser face aquilo que outrora fora: jovem e inconsciente de todo o bem, ciente do mal e crente em tudo menos em Deus. Não sei se é a idade, ou se é só uma farsa minha achando que já me estou a tornar numa mulher. Mas na verdade, tudo se está a desmoronar e eu cada vez mais não me encontro em mim mesma. Ou, na verdade, em mim mesma encontrei outro eu. Não sei se este impulso mudará alguma coisa, mas a verdade é que ainda me estou a tentar compreender. A verdade é que ainda estou a tentar perceber quem é esse ser que nasceu em mim há uns tempos. Desde então me tenho visto fechada entre mim e mim mesma, tentando perceber quem é que eu sou, ou melhor, em que é que me tornei.

Maria

12 de maio de 2013

Hoje sonhei que me tinha matado. E nesse sonho, levemente temia a morte e de perto a via agreste. E fazia todo o sentido, porque eu tinha medo mas desejava-a na minha maior profunda sensatez. Como suave se punha em mim a noite, a morte tomava-me lentamente. Perdia os sentidos, perdia a consciência  e partia para o outro sítio. E era doce, bom, enriquecedor. E queria mais, morrer mais vezes, repeti-lo, sem me arrepender.

Quando acordei, tentei matar-me. Não consegui. Porque nunca o iria poder repetir.